Publicada na radio France Info em 11/09/2016
Traduzida por Valeria Lima Salem
Ele não pretende deixar barato. Demitido na sexta-feira pelo governo de Michel Temer, o ex-conselheiro-geral do Brasil acusou o atual presidente neste domingo, 11 setembro, de tentar « abafar » a investigação de corrupção relacionada à gigante petrolífera pública Petrobras, que respinga em seus aliados. « Fui demitido por ter contrariado muitos interesses. O governo quer abafar a operação Lava Jato [investigação sobre a corrupção na Petrobras], porque tem medo de seu alcance », disse Fabio Osorio Medina à revista Veja.
Segundo ele, o atrito com o governo conservador de Michel Temer começou há três meses. Ele disse ter pedido, na época, que as empresas envolvidas na rede de corrupção da Petrobras reembolsassem o dinheiro desviado, e solicitado acesso à investigação para entender a envolvimento dos principais líderes políticos de alto escalão. « O ministro Eliseu Padilha me aconselhou a ficar de fora da Lava Jato », diz ele, em outra entrevista ao jornal O Globo, no domingo.
« Eu nunca faria isso », se defende o presidente
O presidente Temer respondeu domingo, durante uma entrevista também ao Globo, dizendo que « seria absurdo o executivo intervir na investigação. » « Eu nunca faria isso. Sou muito consciente do texto da Constituição. Não há qualquer possibilidade de intervir », precisou.
Nos últimos dois anos, a investigação Lava Jato descobriu uma vasta rede de corrupção dentro da Petrobras, custando mais de dois bilhões de dólares à principal empresa pública do Brasil, e beneficiando dezenas de políticos vários partidos, empreiteiras e diretores da Petrobras.
A investigação agravou a crise política brasileira, que levou ao controverso impeachment da presidente de esquerda Dilma Rousseff, no último dia 31 de agosto, por maquiagem de contas públicas, prática da qual que seus antecessores fizeram uso extensivo. Michel Temer irá substituí-la até o final de seu mandato (2018).