Reportagem de Malo Tresca (com AFP) para o jornal francês La Croix, publicada em 01/09
Tradução: Valeria Lima Salem
Enquanto o advogado da presidenta deposta do Brasil Dilma Rousseff recorreu, na quinta-feira, 1 de setembro, ao Supremo Tribunal para solicitar um novo julgamento e a anulação da sentença, Michel Temer, do poderoso Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB, centro), tornou-se o novo presidente do Brasil.
Durante cinco anos vice-presidente de Dilma Rousseff – que colou nele a embaraçosa etiqueta de « traidor » e « conspirador » – o homem forte do PMDB do (centro-direita), foi empossado pelo Senado. Presidente interino desde a suspensão de Dilma Rousseff em 12 de maio, ele vai dirigir um Brasil em crise até a próxima eleição legislativa e presidencial, no final de 2018.
Michel Temer desferiu um golpe fatal contra a ex-guerrilheira de 68 anos, presa e torturada durante a ditadura (1964-1985) empurrando em março seu partido, o PMDB, para deixar o governo de coalizão. Dilma Rousseff foi acusada de ter maquiado contas públicas para encobrir a dimensão do déficit e de ter aprovado três decretos de despesas sem o sinal verde do Parlamento.
Conexões poderosas em São Paulo
Michel Temer « conseguiu estabelecer importantes conexões no estado de São Paulo, onde ocupou cargos importantes », observou há algumas semanas Frédéric Louault, professor de ciência política na Universidade Livre de Bruxelas e membro do grupo de pesquisa interdisciplinar sobre o Brasil (GRIB). Nascido na região em 1940, Michel Temer concluiu seus estudos universitários antes de se tornar um dos professores de direito constitucional mais reconhecidos do país.
Foi em São Paulo que começou a sua carreira política. Tornou-se secretário de Educação em 1983 e, em seguida, procurador-geral, antes de se juntar, três anos mais tarde, às fileiras do PMDB como deputado. Teve seu mandato renovado por seis vezes antes de se tornar presidente nacional do partido, em 2001, e vice-presidente da república em 2011, sob a liderança de Dilma Rousseff. Sua carreira política focada na modernização das instituições nacionais seduziu o Brasil.
Nenhum cargo no “primeiro escalão”
Há, no entanto, várias « sombras no quadro ». O homem discreto que vai assumir o poder até as eleições de 2018 « nunca exerceu uma função sênior no executivo federal, já que o papel do vice-presidente é pequeno em tempos normais », disse Frédéric Louault.
Para acalmar seus novos aliados conservadores, ele garante que ele não vai ser candidato na eleição presidencial de 2018 … Mas, de qualquer forma, está oficialmente inelegível por oito anos após uma condenação por excessos em doações de campanha. Na primavera, ele tinha 1 a 2% das intenções de voto nas eleições.
E ainda há o escândalo gigantesco Petrobras. A tempestade já levou seu incômodo companheiro Eduardo Cunha, o sulfuroso ex-presidente da Câmara dos Deputados, arquiteto do impeachment de Rousseff. Ele foi citado pela acusação, mas sem ser investigado pela justiça até agora.
Em seu discurso de posse, o novo presidente prometeu « colocar o Brasil nos trilhos », durante sua primeira reunião de gabinete. « Sairemos sob aplausos dos brasileiros. Vai ser difícil « , reconheceu, antes de voar para a China para a reunião do G20.
« Meu único interesse é entregar a meu sucessor um país em paz, reconciliado e em crescimento econômico », repetiu em um discurso televisionado.